segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Maresia

Cansada e insone,
Recebo esta manhã
Gelada como a fome
Mental que me atrofia.
Regresso então ao mar
Aonde cada dia
È uma benção de sal
De sol e maresia...
E o mar beija-me toda e me confia
O segredo fiel da onda e da bruma...
E é então que encontro funda, muito funda
Uma concha de espuma
Sem perola nenhuma....

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Ponto de fuga

Virá o dia em que me hás-de perder
Dirás um palavrão
Porra... Só me faltava esta!
Será o teu modo de sofrer
Um fim de festa...

Mas, às seis horas da tarde
Sentirás uma porta que bate
Nessa tua maneira de sorrir...
Levo eu a chave
Dessa porta aberta
Na tua vida e nos teus cuidados
Entre os meus dedos frios e cerrados
Como quem guarda aquilo que lhe cabe...
E tenho pena
De partir assim
A vida foi pequena
Para mim...

A noite há-de parecer-te mais escura
Nenhuma estrela cairá madura
No teu abraço quente
E eu, em ti
Hei-de ficar segura
Finalmente...

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Poder

Porque tenho poder
Eu te proibo
A nostalgia das tardes de setembro
Porque tenho poder
Eu te proibo
A languidez das folhas do negrilho
As petalas caidas sobre a relva
Da roseira que teve mais um filho...
Porque tenho poder
Eu te proibo
A limpidez do ceu
Que como eu
Te espera calmo e puro
E porque tenho poder
Eu te esconjuro
A seres fiel aos lidimos sinais
Que não perderão mais os teus sentidos...
E porque tenho poder
Eu te proibo
A tua masculina saciedade
De te saberes amado de verdade!
Porque tenho poder
Eu te proibo
De ignorares que há acasos tais
Tão lidimos...fatais
E exclusivos
Que são
A unica razão
De estarmos vivos....

Maria Augusta Ribeiro

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Maria

Subia a rua,
Descorada e laça
Chamava-se Maria
Não tendo solução para a desgraça
Vivia...
Carregava consigo alguns volumes
E um pobre cachorrinho
Ganindo os seus queixumes
E um pequeno rádio que tocava...
A saia, um trapo velho a fazer ciúmes
Ao lixo da calçada
Uma blusa de cetim vermelho
Que já brilhara num baile de embaixada
Flores secas nos cabelos
E uns olhos que pediam para ser belos
Mirando sempre além...
Andava devagar,
Sem atropelos
Tal como quem
Indo é que vem...
Alheias, as pessoas
Nos seus trilhos
Pensando no trabalho, na casa e nos filhos
Corriam como lebres no coutado...
E nem o som do fado
As atraia...
Onde iria
Maria?
A nenhum lado!
Imagem de um destino
Perdedor
Levava dentro dela o passado
Quem sabe lá se de um imenso amor?
Um pequeno sorriso lhe franzia
A tristissima boca...
O mundo a percebia
Como Maria
A louca...

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Culpa

Estar mais perto que estar
Conluio lateral
Página seca da seiva do portal
Do expontaneo, natural, sublime...
Culpa que o tempo já não mais redime
Ardencia no olhar
Que tudo vê...
Antes, os laços
No berço ocupado
Pelo docel dos braços
Protetores
E quando o cerro
Gelado e sem flores
Sussurra de agonia
Curvam-se os dedos
Sobre o som do nada
Faz-se silêncio sobre cada estrada
Que leva à alegria...

Assim se cria e faz
O noivado da paz...

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Tu és mar

Vem me navegar
Veleiro do sul
Vem aproveitar
Um ocaso azul
A onda do seio
Se abrirá ao meio
Para te embalar
Orienta a quilha
Para a doce ilha
Que irá te acolher
Sou mar e sou espuma
Sou mais do que uma
Sereia-mulher
Sou concha soando
No teu universo
Sou onda voando
Na margem de um verso
Sou alga molhada
Sobre a tua pele
Rota perfumada
Cruzeiro de mel...
Horizonte certo
Tão perto... Tão perto...

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Medusa

Agora que a palavra
É o vetor dileto
Dos voos outonais
Em seu explendor
Há um cometa raro que está perto
Das queixas e da dor...
Não há palavra chave
Não há ferrolhos
Seca o vento
O suplicar dos olhos
Numa expressão lasciva
Tentadora
- Toda a promessa é mais que sedutora
É um chão
No Sião
Feito em rubis!
E tudo...
Tudo
O silencio ocupa e usa
Numa cabeça forte de Medusa
Que aponta em pedra
A expressão feliz...

FRAGIL

Radiante manhã
De um dia de calor
Do céu, o azul caindo
Como uma chuva de cor.
Pequeno, abandonado
Um pássaro arquejava
No relvado...
Desço aflita ao jardim
(chamaria por mim?)
Deitei-o em minha mão
Com jeito maternal
Uma bolinha de penas
Duas patinhas pequenas
Um coração a bater
Naquele ninho ocasional...
Até que enfim sossegou
Com um ligeiro tremor...
Abri um rasgo no chão
Com ternura e comoção
Cobri-o com uma flor...
Com a alma agora presa
A uma antiga certeza
Regressei então a casa...
É sempre uma tristeza
Enterrar uma asa!!!

sábado, 30 de junho de 2012

Cabelos Brancos

Coroa
Luz
Vestigios de paixão
Luar que fugiu do chão
Restos de leite
Desenho de emoção
O tempo coalhado
Noites vagas
Presença do passado
Arquétipo guardado
Asa sem vento
Tradução do tempo
Perdão sem o perdão
Ternura em pedaços
Pégadas dos abraços
Grito... Gritos
Dos beijos já proscritos
Mil enganos, traições
Esgarçadas lições
Vela sem pavio...
E o que não se crê
E é coração...
Perguntas... porquê? porquê?
E sempre porque não...
Reposta toda aberta
De raiva encoberta
Ossos brancos da alma
Dom, sangue, condição
História feita pão
Da vida...
Puro granizo alheio
Véu de amor
E a palavra do meio
Que nunca ninguém escuta...
Poema...
Pena...
Luta...

Efemeride

Efeméride
Descobrir lentamente
A acidez do fruto,
Abrir enfim no labio devoluto
Residual aspeto á saciedade,
Procurar na raiz
A seiva da saudade
Descobrir o que diz
O rumor que a invade....
Ver na ínvia colheita
O gesto absoluto
Dessa paz que nasceu
Na lágrima e no luto...
Cultivar o segredo
Do momento imperdivel
Sem nunca ter noção

Do certo ou do possivel,
Esquecer a lonjura
Arcar com o silencio
A escuridão e o medo
E com fé e ternura
Guardar aquele segredo
Que enreda... enreda
Como uma amarga teia....
Despertar de manhã
Da mesma melopeia
Que embala a inocente
Ideia do presente,

Aulico e suspenso da biblica recusa
Atraiçoada
O fruto sempre ali....

A escrever o verso que não usa

A pagina rasgada
De ti.....M.A.R

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Lágrimas

Eram lágrimas azuis
As que caiam no rosto
Quando chorava na praia
Com saudades do sol posto

Foram lágrimas cinzentas
Quando ele se foi embora
Tão grossas, tão violentas,
Que ainda pesam agora

Eram águas cristalinas
Quando perdi o meu pai
Água pura da menina
Que eu não fui nunca mais

Foram lágrimas rosadas
As que a minha mãe levou
Entre as suas mãos cruzadas
Que um rosário abençoou...

Foram lágrimas de leite
Quando tu, filha, nascias
Todo o que eu tive, eu dei-te
Tu mamavas... e sorrias...

Foram lágrimas douradas
As que aos netos entreguei
Hoje são lágrimas caladas
Porque nunca mais chorei...

Hoje, são lágrimas do rio
Que na minha terra corre
Que me agasalham do frio
Deste amor que nunca morre!

sexta-feira, 18 de maio de 2012

As Bodas

Lautas bodas
Sem favor!
Trinta dias de papança!
As damas ficam mais gordas
Aos homens lhe crescem a pança,
O povinho, em seu labor
Apreciando a folgança
Dá-se conta da abastança
E mais louva o seu Senhor!

A Princesa, mui louçã
Desde a primeira manhã
Em que nos véus se envolveu
Já começa a dar de si
Com tais desmandos por i
Já lhe cuida do que é seu...
E além do mais... está cansada
Pois para recém casada
Quere-se repouso e cuidado
P´ra o que foi bem guardado
Não venha por descuidado
A ser dado por não dado

- : Senhor Pai, findai a festa
Que a razão já não se presta
A tão luzidos festejos,
Já tenho um mês de esposada
Começo a estar enfadada
Da demasia dos beijos
A saber a marmelada

Senhor Pai
Assocegai...
Por Deus, que já é suplicio
Ver por tal o desperdicio
Que por esses paços vai...
Assocegai
Senhor Pai!!!

Ouvidos de mercador
Faz o Rei que é gozador
E amigo de companhia
- : Folgaremos à porfia
Que a tão asada alegria
É mister dar seu valor...

Então, a pobre Princesa
Em justa revolta acesa
Dando voz à natureza
Dos seus motivos concretos
De ar irado e vista torva
Ao Rei lhe pregou com esta:
- : Pois fica por conversado
Continuai vós a festa
E outra vos dê os netos
P´ra vosso real agrado!

E fechou-se em sua alcova
Por um ano bem contado...




segunda-feira, 7 de maio de 2012

Livre

Nunca foi tão longe
A ave canora
Do meu pensamento
Viaja agora
Ao colo do vento,
Visita rochedos
Paira sobre a areia
Percorre redonda
Toda a lua cheia...
Se dantes servia
Ao quarto minguante
Num périplo triste
Apaziguado,
Hoje guarda silencio
Mas tão povoado
Que é como uma bolha
De sol coalhado...
Pelo ar palpita
O seu adejar
Só se percipita
Pr´a beijar o mar
Não conhece o medo
Da bala perdida
Pisa o segredo
Da vida...
Colorida e breve
Seta de plumagem
Sonha, cria, escreve
Tudo à sua imagem,
E fita sem medo
Os olhos da margem
Assim se concentra
No ato de ser
E voando entra
No cais de morrer...




sexta-feira, 27 de abril de 2012

Menininha!

Dá-me a tua mão, criança
E sente como eu te imploro
Um pouco dessa inocencia
Com que exageras o choro
Com que pedes... o que for
Eu quero chorar assim
De novo, convitamente
E como tu, de repente
Sorrir à primeira flor...
Quero chapinhar contigo
No translucido laguinho
Que as chuvas improvisaram
Sem ir pensar que adoeço
Ou no exagerado preço
Dos sapatos que estragaram
Leva-me ao raio de sol
Que pos seus ovos dourados
Nos teus olhos transparentes
E mostra-me o rouxinol
Que te ensinou os trinados
Dos teus gorgeios contentes
(o teu balão colorido
É como a vida da gente
Enche, enche, convencido
E estoura... subitamente)
Ensina-me menininha
A ser alegre e a brincar
A fazer uma casinha
Com pedrinhas cor do mar
Vamos fazer uma horta
Com raminhos de jasmim?
E ensinas-me onde é a porta
Do palacio de Aladin?
Levas-me à tua Avó
Que a olhar-te se distrai?
E quando fizeres óó
Emprestas-me o teu Pai?
Ó menininha inquieta
Que alegras a tarde mansa
Como uma borboleta
Que se transforma em criança
Salva já essa pureza
Guarda bem tua alegria
Parte... Morre de surpresa
Hoje ao findar do dia...

segunda-feira, 23 de abril de 2012


De corpo e alma

Acalme-se o povo

Que agitado grita

A festa é

Da portuguesa estreia

De quem não colhe mas semeia

O perfeito sentido do dever…

Prendas de sol

Depois da tempestade

Abrem o rol

Da felicidade.

Está no país

A força da raiz

Que enlaça a terra

Em união antiga!

E que não haja alguém mais que me diga

Que é o fim

Muda-se a vida 

Com um único sim…

APELO



Cola em meu rosto

Aquela mão amiga

Que traz da sombra

Um sol remanescente

Recolhe da penumbra

Uma cantiga

Que faça crescer em mim

Um deus contente

Como Pan saltitando

Entre maciços

Da sua flauta

Recolhendo os vícios

De melodia ímpar e carnal

E arranca de mim este silício

De uma funesta e torpe bacanal

Bebamos à saúde da beleza

Que por vezes se esconde na certeza

De que algo em nós é imortal…

Um dia tu saberás

O que é um amor perfeito

É ter-te, onde não estás

Aqui, bem dentro do peito

terça-feira, 10 de abril de 2012

O abraço

O abraço

Subtil... ás carreirinhas
Vem chegando a madrugada
E a cidade encostada
Sobre as ruas ás tirinhas
Saiu de um conto de Grim,
São seis horas da manhã
Há Páscoa dentro de mim...

O folar ainda cabe
Na algibeira da memória
Tão bem é que já não sabe
Também ele passou à história.
(esta crueza de ver
as coisas como elas são,
está a fazer-me crer
que esgotei a ilusão)
Maaaas... de repente pode haver
Abraços no coração...
Meiga frescura esta aragem
Que vem não se sabe de onde
Um elfozinho responde
A este bulir da aragem
Saltitante e folião,
Já anda pela ramagem
A fabricar o Verão!
Ai, um pequeno prazer
Inesperado e aflito
Como faz tudo parecer
Bonito...
Mas as rédeas são de aço
E nos impõem as peias
Por mais que escorra melaço
Das palavras e das veias...
Vazio fica o espaço
Do abraço
Das ideias...

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Então Menina?
                                                                                                   Na morte de Rodrigo Botelho, meu Tio

Aguenta coração, mais esta esquina
Na caminhada informe
Não te protege o aço
Contra uma dor
Enorme,

Partiu sem um abraço
Para Deus,
Afetuoso, honrado
Deixou alguns dos seus,
Mas tem lá tantos
Já do outro lado!
(Quando é o Pai
Não há perdão para a morte,
Aquela voz solene
Aquele abraço forte
Era um leme
Que nos virava ao Norte...)
São ramos secos
Que se vão soltando
Doridos e cansados, porque amaram
E nos deixaram o dó
Que à dor maior resiste...
A morte...
Triste
É a total verdade
Pois tudo mais que existe
Não passa de saudade...

quarta-feira, 21 de março de 2012

O Sonho??

Que sonho é este
Que escorre das paredes
Do cálido agasalho
Onde cultivo a esperança
De uma vida que só tem valor
No espelho adulto da lembrança?
Noção de alma que fisica perdura
Na intuição de poeta menor
Alarme envolto em espirais de cor
Rangendo como lei em expansão
É preço alto de entrega à emoção
De ser o lado são desta aventura
Neste gélido encanto
De ter vivido tanto, tanto, tanto...
Cansada e já finita
Postos os perigos
Em balanças estranhas,
Olho para o mundo como quem transita
Nos roteiros que evita
Sem querer,
E é este viver, um não viver,
Enquanto o sonho desferindo redes
Vai escorrendo, lento, nas paredes...











segunda-feira, 12 de março de 2012

Afinal quem és tu, como te chamas, um jovem triste, um velho de pijama
Um princepe polémico, ardoroso
Que nome tens na boca quando beijas
Em que fronteira estás quando desejas?
Procuro inventar-te sem saber
Aonde ir buscar estes teus dados
És como um astro sempre a prometer
Cuidados...
Vagueias no infinito espacial
Vestindo a dura casca do animal
que existe em ti, de certo
Na guerra que semeias nos sentidos
Não existem heróis, há só vencidos
No sonho que pertende ser moderno
e tão real com um noticiário
Morres todos os dias
Mas, eleito
Ressuscitas, sorrindo, sobre o leito
Em que deixaste o teu lugar marcado
Vitima ou não, tu continuas preso
A uma especie de lenda improvisada
E eu, serena, só, imaculada
Sou como um bicho em tempo de defeso...

                                                                                                                                 11/03/20012

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Em verdade, em verdade vos digo
Que a rota se abriu
O medo ao perigo
Finalmente ruiu
Especial o treino
Do coração impera
Abriu a feira da primavera
E cheira a algodão doce
E como é bela a noite habitada
Em que se escuta
A clara guisalhada
Dos gestos sensuais
Queremos mais,
Queremos sempre mais`
É a fome ancestral
Da maçã proibida
Cansados de cansar
Nos entranhamos
Em ondas de ternura comovida
E de amavio
E abraçados ou não
Despedimos o frio...

Á noite fala baixinho
Como fazes a rezar
Nas ondas do teu carinho
Eu quero me afogar...
 

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

          A G O R A
                         V
                         E


Não querer nada
Calma e grave
Asa fechada
De ave
Repouso azul de espuma
Sem abraço
O pensamento uma
Provincia do espaço...
Abrir um ninho sobre cada olhar
E incubada de eu
Uma a uma as penas alisar
Como quem beija um filho que morreu...

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Os anos passam e fica
Nas veias a sementeira
De uma colheita tão rica
Como se fosse a primeira
Será que o estado de graça
Em que julgamos pairar
Nos perturba e nos disfarça
As nevoas do acordar?
Seremos nós tão sinceros
Que na margem do perdão
Para sermos verdadeiros
Temos de dizer que não?


segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Um dia tu saberás
O que é um amor perfeito
É ter-te, onde não estás
Aqui, bem dentro do peito


De corpo e alma

Acalme-se o povo
Que agitado grita
A festa é
Da portuguesa estreia
De quem não colhe mas semeia
O perfeito sentido do dever…
Prendas de sol
Depois da tempestade
Abrem o rol
Da felicidade.
Está no país
A força da raiz
Que enlaça a terra
Em união antiga!
E que não haja alguém mais que me diga
Que é o fim
Muda-se a vida 
Com um único sim…


sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Fabula!

Amigo, disse a pomba ao gavião
Cruzando rápido o espaço
Não estragues as minhas penas
Que são os raios de sol
Que cairam nos meus braços
- Pena é, respondeu ele
Que sejam precisas penas
para podermos voar
e libertar-nos do chão...
As tuas, deu-tas o sol
As minhas, o coração...

Dalila

Um ímpeto feroz
Me alimenta a gula
Como me vês
De uma raça obscura
Que entre os becos de mim
Se transfigura
Em perfil de cordel
Que em atoarda se fez
Ser secular e madura
Como uma esfinge de grés
A afogar em mistério
O incauto caminhante
Mais singular do que sério!
Tornar real o preço da emoção
Que encaracola a aura
(Prata-lei)
Arrebatando a carga sensual
Dos joelhos unidos, macerados
Dos contrastes gelados
Que inventei...
*********
Há fomes
Que se alimentam de si mesmas
Com palavras e esquemas
Parasitas
Por isso o ímpeto pode ser sagrado
E derrotar para sempre o mau olhado
Das pragas imprevistas...
********
Ser como a lua que respira fundo
Por saber que o luar
Não sendo seu
Não serve nunca
Para enganar
O Mundo...


quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Fado

Nada nos diz que o vento é sincero
Ou se obedece a leis que não conhece
O que às vezes parece verdadeiro
E o que Deus esquece...

Se neste inverno a neve não vier
Hei -de sentir-me um pouco mais mulher
E aquecer os lábios do meu sonho.
Só nos resta pensar
Que o que vier
Poderá ser mais nobre mais risonho
Nascendo emoldurado de atenções
Bateremos á porta das estações
Voltando a ter as lídimas colheitas
E as consciencias de mãos dadas
Feitas...
Ao ressurgir da saga imortal
A todos o sangue nos prediz
Que há um velho País
Que precisa de nós, de todos nós
E que o Fado, que agora é universal
Reuna para sempre a nossa voz!
 

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Nevoeiro!

Os garfos da noite
Enleiam
A curvatura do monte
Rasgam, rasgam
Despenteiam
A franja do horizonte
podem gemer as ovelhas
E pender as oliveiras
Ilusões nunca são velhas
São únicas e primeiras
Dá-me força... Dá-me força
Gelo que tanto vagueias
Dá-me a graça das estreias
Que a vida ás vezes, concede
: - Uma neve protetora
Que dá mais do que o que pede...
Pelos ossos da palavra
Dá-me a certeza do risco
Da missão inacabada
Em que há tantos anos fico
Sorrateira... levezinha
Estreitando a dimensão
De uma confissão só minha
Que não espera perdão
Depois de tanta crueza
Deixa-me no nevoeiro
Inconformada e presa
A um inverno inteiro...

*********

Neste cílicio fremente
que corta o destino ao meio... 

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Quando pedimos perdão
Onde fica o próprio amor
Na alforria da paixão
Ou na fronteira da dor?


Quando uma alga abraça
A espuma leve do mar
É como a chuva que passa
Para a nuvem descansar...

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

O melhor presente é dar...

Às cinco da madrugada
anda um anjo afadigado
na atmosfera parada
de um sonho nunca acabado.