sexta-feira, 27 de abril de 2012

Menininha!

Dá-me a tua mão, criança
E sente como eu te imploro
Um pouco dessa inocencia
Com que exageras o choro
Com que pedes... o que for
Eu quero chorar assim
De novo, convitamente
E como tu, de repente
Sorrir à primeira flor...
Quero chapinhar contigo
No translucido laguinho
Que as chuvas improvisaram
Sem ir pensar que adoeço
Ou no exagerado preço
Dos sapatos que estragaram
Leva-me ao raio de sol
Que pos seus ovos dourados
Nos teus olhos transparentes
E mostra-me o rouxinol
Que te ensinou os trinados
Dos teus gorgeios contentes
(o teu balão colorido
É como a vida da gente
Enche, enche, convencido
E estoura... subitamente)
Ensina-me menininha
A ser alegre e a brincar
A fazer uma casinha
Com pedrinhas cor do mar
Vamos fazer uma horta
Com raminhos de jasmim?
E ensinas-me onde é a porta
Do palacio de Aladin?
Levas-me à tua Avó
Que a olhar-te se distrai?
E quando fizeres óó
Emprestas-me o teu Pai?
Ó menininha inquieta
Que alegras a tarde mansa
Como uma borboleta
Que se transforma em criança
Salva já essa pureza
Guarda bem tua alegria
Parte... Morre de surpresa
Hoje ao findar do dia...

segunda-feira, 23 de abril de 2012


De corpo e alma

Acalme-se o povo

Que agitado grita

A festa é

Da portuguesa estreia

De quem não colhe mas semeia

O perfeito sentido do dever…

Prendas de sol

Depois da tempestade

Abrem o rol

Da felicidade.

Está no país

A força da raiz

Que enlaça a terra

Em união antiga!

E que não haja alguém mais que me diga

Que é o fim

Muda-se a vida 

Com um único sim…

APELO



Cola em meu rosto

Aquela mão amiga

Que traz da sombra

Um sol remanescente

Recolhe da penumbra

Uma cantiga

Que faça crescer em mim

Um deus contente

Como Pan saltitando

Entre maciços

Da sua flauta

Recolhendo os vícios

De melodia ímpar e carnal

E arranca de mim este silício

De uma funesta e torpe bacanal

Bebamos à saúde da beleza

Que por vezes se esconde na certeza

De que algo em nós é imortal…

Um dia tu saberás

O que é um amor perfeito

É ter-te, onde não estás

Aqui, bem dentro do peito

terça-feira, 10 de abril de 2012

O abraço

O abraço

Subtil... ás carreirinhas
Vem chegando a madrugada
E a cidade encostada
Sobre as ruas ás tirinhas
Saiu de um conto de Grim,
São seis horas da manhã
Há Páscoa dentro de mim...

O folar ainda cabe
Na algibeira da memória
Tão bem é que já não sabe
Também ele passou à história.
(esta crueza de ver
as coisas como elas são,
está a fazer-me crer
que esgotei a ilusão)
Maaaas... de repente pode haver
Abraços no coração...
Meiga frescura esta aragem
Que vem não se sabe de onde
Um elfozinho responde
A este bulir da aragem
Saltitante e folião,
Já anda pela ramagem
A fabricar o Verão!
Ai, um pequeno prazer
Inesperado e aflito
Como faz tudo parecer
Bonito...
Mas as rédeas são de aço
E nos impõem as peias
Por mais que escorra melaço
Das palavras e das veias...
Vazio fica o espaço
Do abraço
Das ideias...

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Então Menina?
                                                                                                   Na morte de Rodrigo Botelho, meu Tio

Aguenta coração, mais esta esquina
Na caminhada informe
Não te protege o aço
Contra uma dor
Enorme,

Partiu sem um abraço
Para Deus,
Afetuoso, honrado
Deixou alguns dos seus,
Mas tem lá tantos
Já do outro lado!
(Quando é o Pai
Não há perdão para a morte,
Aquela voz solene
Aquele abraço forte
Era um leme
Que nos virava ao Norte...)
São ramos secos
Que se vão soltando
Doridos e cansados, porque amaram
E nos deixaram o dó
Que à dor maior resiste...
A morte...
Triste
É a total verdade
Pois tudo mais que existe
Não passa de saudade...