Deslocada, exilada
Emigrante de mim
Voltando à terra sinto-a acordada
De um sono longo, letárgico, sem fim...
(-Quando eu nasci
Em branda hora de lua
A minha Mãe, que já não está aqui
Levou-me ao rio Tua
e disse: -, é para ti
Nele lavarás os sonhos
Minha filha
Nas suas margens te farás mulher
Das ilusões constrirás a ilha
Onde só volta quem o merecer...
Segui o rio, vim parar ao mar
Mas fiquei transmontana no falar
Na claridade da saudade viva
Na franqueza
E na lírica, proféctica, atitude
De me manter fiel à Natureza!)
A ponte ardia em luz
O firmamento escuro
Perdia-se, alastrando pelo mundo
E o povo, tão bonito!
Extasiado
Dava, sem saber
A sua força ao mito
De permanecer:
O mito da raiz
Dos cerros e dos montes
Do olival feliz
Das hortas e das fintes
Das romarias quentes dos sentidos
E outras
Em que corpos e almas são erguidos
Na tradição que encerra
A ancestral beleza desta terra!
( -Regresso agora já gasta do esforço
De uma vivência longa, entretecida
De netos e de risos
Alegorias, lutos, solidão
Ajoelho no chão
E, comovida
Retomo essa magia
Dos loiros anos em que tudo é novo
E sinto a alegria
De ser povo
De pertencer a esta gente boa
Que luta por um sonho que lhe é caro
Pois nunca poderá haver Lisboa
Que valha uma Senhora do Amparo!)
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